domingo, 10 de abril de 2011

Participação analítica no Qualis

O Qualis é a tabela de classificação da CAPES para periódicos científicos. As faixas de classificação em ordem crescente são C, B5, B4, B3, B2, B1, A2 e A1, ou seja, C corresponde à menor avaliação e A1, à maior. A CAPES também vincula os periódicos a áreas de conhecimento, sendo que um mesmo periódico pode estar vinculado a diferentes áreas e sua avaliação pode ser diferente em cada uma delas. Na tabela Qualis, há uma área intitulada Filosofia/Teologia, e é nela que encontramos os periódicos que publicam artigos filosóficos.
O NEFA teve a iniciativa de empreender uma pesquisa no Qualis para aferir qual a participação da Filosofia Analítica na publicação de periódicos filosóficos. A pesquisa foi feita por Andreia Ferreira (bolsista de iniciação científica), Dário Bandeira (bolsista de iniciação científica), Eduardo Nogueira (bolsista de iniciação à docência) e Cícero Barroso (professor), e levou em conta apenas os periódicos com Qualis maior que B3 que continuavam ativos até a última avaliação da CAPES (ano base 2008/tabela divulgada em 2010). Os números que apuramos foram os seguintes:

Total de periódicos com os requisitos acima especificados = 191
Periódicos não encontrados na rede = 2
Periódicos com predomínio de artigos não filosóficos = 50
Periódicos encontrados na rede com predomínio de artigos filosóficos = 139

A composição desse conjunto de 139 periódicos é detalhada no seguinte quadro:


TOTAL
ANALÍTICOS
NÃO ANALÍTICOS
GERAL
139
54
85
B2
19
4
15
B1
49
14
35
A2
46
24
22
A1
25
12
13


Para chegarmos a esse quadro, elaboramos uma planilha de Excel com os títulos dos 191 periódicos pesquisados. Nessa planilha, os títulos dos 50 periódicos com predomínio de artigos não filosóficos foram escritos em azul, os 2 periódicos não encontrados na rede foram escritos em vermelho e os demais 139 periódicos foram escritos em preto (não analíticos) e verde (analíticos). Quem desejar conferir os dados pode fazer o download dessa planilha clicando aqui. Para quem tiver especial interesse pelos periódicos analíticos, pode ser mais prático baixar outra planilha, essa contendo apenas a lista dos 54 periódicos analíticos com Qualis maior que B3. Para baixá-la, clique aqui. Uma planilha com a lista completa dos periódicos com Qualis na área Filosofia/Teologia pode ser encontrada no site da CAPES.
É importante esclarecer os critérios que usamos na classificação dos periódicos. Em primeiro lugar, decidimos classificar como não filosóficos os periódicos que se autointitulam teológicos; não obstante, periódicos que declaram tratar de Filosofia da Religião, foram considerados filosóficos. Assim, evitamos a questão de se há uma diferença substancial entre Filosofia da Religião e Teologia. Em segundo lugar, consideramos filosóficos os periódicos que, mesmo tratando de temáticas relacionadas a uma ciência particular, declaram ou demonstram preferência pelas questões filosóficas concernentes àquelas temáticas. Finalmente, tratamos de identificar os periódicos analíticos. Para tanto, a primeira coisa que examinávamos em cada revista era o seu editorial. Quando isso não bastava, examinávamos também o quadro de editores, as temáticas dos artigos, os nomes dos autores etc. Classificávamos um periódico como analítico apenas quando tínhamos evidência suficiente para isso. Além disso, fizemos duas escolhas conceituais (senão ideológicas): 1. consideramos analíticos todos os periódicos de Lógica, exceto aqueles dedicados mais especificamente à Lógica aplicada à computação; 2. mesmo cientes de que as maiores universidades britânicas e americanas pertencem à tradição analítica, decidimos classificar como não analíticos os periódicos que essas universidades dedicam exclusivamente à História da Filosofia.
Algo alarmante que essa pesquisa revelou é a ausência de periódicos filosóficos internacionais importantes no Qualis. Por exemplo, não aperecem nele The Journal of Philosophy, The Philosophical Quarterly, The American Philosophical Quarterly, Erkentnnis etc. E essas são algumas das mais prestigiadas revistas de Filosofia Analítica do planeta. É de se pensar que revistas não analíticas importantes também tenham passado em branco.
Esperamos que os resultados de nossa pesquisa sejam úteis tanto para analíticos como para não analíticos. É nosso desejo repetir essa pesquisa todos os anos daqui em diante, até quando for possível. Assim, poderemos comparar os dados de cada ano com os dos anteriores.

7 comentários:

  1. Olá Cícero,

    como vai? Achando que já tinha visto a Erkenntnis no Qualis de Filosofia, busquei lá através do nome e vi que me enganei. De fato, não a devo ter visto, não no de Filosofia. Mas pesquisa lá (http://qualis.capes.gov.br/webqualis/ConsultaPeriodicos.faces) e vê: aparece uma "Erkenntnis" em "ENGENHARIAS I". É ela mesmo? Acho que sim, pois o ISSN é o mesmo (http://www.springer.com/philosophy/journal/10670). Estou eu, novamente, ou eles enganados?

    Bem, parabéns a todos pelo trabalho e pela proposta de acompanhar a classificação.

    Abraço,
    Thiago.

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  2. Oi, Thiago!

    Obrigado por sua contribuição! Acho que a Erkenntnis que vc viu é a do Círculo de
    Viena mesmo. O Guido também viu a postagem e me explicou que a CAPES só classifica um periódico depois que um pesquisador brasileiro publica nele.
    Assim, o que deve ter acontecido é que algum engenheiro brasileiro já publicou na Erkenntnis, mas nenhum filósofo brasileiro o fez (talvez os filósofos estejam publicando em revistas de engenharia..rsrs).
    Contribua sempre que quiser, Thiago! Sua colaboração é muito benvinda. Abraço!

    Cícero

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  3. Oi Cícero, agora há claramente sentido na situação das outras revistas que vc menciona. Mas a situação da Erkenntnis ainda é um pouco estranha, né? Pois, se o conteúdo do artigo que o engenheiro escreveu pertence à engenharia, então parece estranho que a Erkenntnis o tenha publicado. Se o engenheiro submeteu à Erkenntnis um artigo de filosofia, parece um pouco estranho que, só por ser o autor engenheiro, a revista como um todo deva ser avaliada por engenheiros e, de fato, mais estranho ainda, que os engenheiros a tenham avaliado com b2. (Não conheço os critérios de avaliação, mas me parece uma nota alta, se o que importa para eles é engenharia). Agora, se o engenheiro escreveu algo que se possa dizer entre filosofia e engenharia (quem sabe uma filosofia da engenharia ou uma engenharia da filosofia), então talvez seja interessante achar esse artigo!!
    Abraço,
    Thiago.

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  4. Pois é, Thiago. Existem esses cruzamentos disciplinares em várias revistas. Existe, por exemplo, uma revista de Medicina com qualis na área de Filosofia. E assim também há revistas de Filosofia com qualis em outras áreas. Se a Erkenntnis tem qualis em engenharia é porque ela deve dar espaço para assuntos que interessam aos engenheiros. Talvez o artigo do engenheiro brasileiro que publicou lá seja na área de lógica. Aqui no Cariri, por exemplo, tem uns engenheiros que trabalham com lógica fuzzy aplicada. Não sei bem como é essa aplicação, mas é o que eles fazem.
    Abração!
    Cícero

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  5. Ah, gostei.. boa hipótese agora.
    Abraço!
    Thiago

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