sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Adão e as Estrelas



Desde que o homem olhou para o alto, numa noite em que não estava em sua caverna, e viu, pela primeira vez, as estrelas, se apaixonou. Nunca mais parou de olhar para o alto. Talvez nesta mesma noite começou a fazer algo que mudaria os rumos de sua existência: a dar sentido às coisas. Talvez Adão, encantado com as estrelas, tenha ficado horas olhando para cima. Deve ter tentado entender o eram aqueles pontos luminosos. Seria fogo? E se chegasse a essa conclusão, estaria certo, não? Mas como fogo poderia estar lá em cima, sem jamais cair? Umas tão intensas, outras tão apagadas... Por quê? O que era aquilo que lhe deixava com vontade de nunca mais olhar para baixo? Ele não sabia, o pobre homem. Mas deve ter tentado alcançar uma mais baixa. Deve ter tentado esticado sua mão ao mais alto que pôde, em vão. Pobre homem! Nem sabia ele que, mesmo com toda a sua capacidade, técnica e evolução, nunca alcançaria uma estrela. Nem mesmo a mais perto de todas... Não com a própria mão!


Mas a alcançou naquela mesma noite, com sua razão, quando cansou de tentar tê-la e entendeu já possuí-la, em sentido e imaginação. O velho Adão voltou para a sua caverna e, com umas pedras coloridas, pintou, na parede da gruta, um rabisco. Aquele rabisco era a estrela, que em sua mente ele trazia e reproduzira. Ali, naquele instante, nasceu a significação. Algumas outras estrelas, e Adão daria início à arte e à linguagem. Mais um pouco, e ele seria expulso do paraíso. O paraíso de sua razão. Mas naquela noite, após desenhar mais umas três ou quatro constelações foi dormir.

Foi, mas não conseguiu. Virou de um lado pro outro no chão frio, pois havia visto pela primeira vez aquelas luzes no céu. Pensou muito, tentou dar significado àquilo. Deve ter coçado seu cabelo longo (já que ele não havia criado a lâmina, nem a tesoura, tampouco a moda). Deve ter afastado uns insetos que lhe picavam (já que nessa época ainda estava no Paraíso - de sua razão! - e não havia ainda a necessidade de se cobrir - só nos dias frios). E quando seus olhos já se iam pesando, como que num relâmpago, veio enfim a ideia! Correu gruta afora e com o dedão apontou para a mais brilhante das luzes celestes. Com um berro exclamou: -Estrela! Foi então expulso da caverna de suas ideias, e veio a luz: aquilo era uma estrela.

Mas você pode se perguntar como o velho Adão sabia que aquilo é uma estrela? Ora, ele deu à estrela este nome e assim deu significação ao que não tinha significado. Deu sentido ao que até então não o tinha. Grande Adão! Nunca mais parou. Mas esta é a beleza de Adão: Ele não evoluiu sua ideia! Veio, apenas. Pois muitos outros, depois, olharão para cima e verão as mesmíssimas estrelas, e dar-lhe-ão novo significado. Alguém da torre de um castelo medieval, outrem de um telescópio da NASA. O velho Adão deu significação porque sentiu que precisava fazer isso. Ele não poderia dormir sem entender o que era aquilo que vira pela primeira vez. E já que não conseguiu entender, deu ele mesmo sua significação, e foi além! Reproduziu aquilo que lhe era inatingível na linguagem e na arte.

Este é o homem, fantástico por dar sentido ao mundo!

Por: Elias Alves Junior (Atahara)

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